Por Leandro Zen
O mercado brasileiro de fintechs subiu mais um degrau em sua cadeia evolutiva. Se os últimos cinco anos foram marcados por um boom de novos players, os próximos já começaram a se delinear como um período de depuração – processo que naturalmente ocorre em qualquer setor.
Certamente, este novo ecossistema – hoje formado por cerca de 600 empresas, mas acredito serem muito mais do que essas informadas – já está assistindo a uma série de processos de fusões, aquisições e falências. Divulgada agora em junho, a 8ª edição do Radar FintechLab reforça as mudanças no cenário, por exemplo, registrando o desaparecimento de 47 fintechs em 2018 em relação ao ano anterior.
Com menos peças no tabuleiro, a competição ficará ainda mais acirrada, inclusive pelo crescimento dos embates desse segmento com o sistema financeiro tradicional. Como num jogo de xadrez, é preciso visualizar alguns movimentos à frente para sobreviver neste campo de batalha.
A recente divulgação, pelo Banco Central, do “Relatório de Economia Bancária 2018” prova esta tese, revelando que no ano passado as cinco maiores instituições do país (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander) foram responsáveis por 84,8% das operações de crédito. Em 2017, esse dado correspondia a 85,8%.
Embora a queda desta concentração tenha sido de apenas um ponto percentual, ela demonstra que o acelerado avanço das fintechs no Brasil acendeu a luz amarela entre os bancos. Afinal, muitos deles já lançaram suas próprias plataformas e fintechs, enquanto outros entraram de cabeça na chamada “guerra das maquininhas”, oferecendo taxas diminutas – ou até mesmo isenções – para operações de débito e crédito.
O desenvolvimento do mercado de meios de pagamento é um caminho sem volta. As pessoas cada vez mais farão operações digitalmente, sem precisar ir às agências físicas ou caixas eletrônicos. A tecnologia tem sido a grande paladina deste novo mundo em que vivemos, visto que futuramente não deverá haver mais dinheiro vivo em circulação, como já ocorre na Suécia, onde notas e moedas representam somente 1% da economia.
É inquestionável o fato de a inteligência artificial (IA) já ter, senão igualado, ao menos aproximado em muito as forças e o alcance entre bancos e fintechs. Quem investir em IA certamente vai se diferenciar entre os concorrentes deste mercado.
A análise de crédito, por exemplo, tem se beneficiado muito desse processo disruptivo. Milhares de dados são cruzados em segundos. Se uma empresa busca recursos, além de seu histórico de crédito ser verificado, chega-se ao ponto de examinar até mesmo como é a sua relação com os clientes.
No caso de pessoa física, também pesa bastante o comportamento nas redes sociais. Parecem dados sem importância, mas sabemos que “o diabo está nos detalhes”, conforme a famosa expressão atribuída ao arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe.
Se antes eram necessários vários dias e muitas “cabeças” para obter um resultado, hoje o consumidor e o empresário têm uma resposta ultrarrápida. Para se ter ideia, as análises de crédito que utilizam os chamados “robôs” hoje levam poucos minutos para ficar prontas.
Paralelamente, há um intenso progresso no desenvolvimento de aplicativos para smartphones que utilizam chatbotsbaseados em machine learning para atendimento ao cliente. Ou seja, a inteligência artificial embarcada no app aprende continuamente por meio da interação com o cliente e com toda a base existente na plataforma.
A análise do perfil do cliente é tão robusta que é possível operar com segurança até com quem possui histórico de inadimplência, principalmente para fintechs que trabalham com antecipação de recebíveis de duplicatas e cartões de crédito.
Utilizada com sucesso por empresas de alta tecnologia como Uber, Facebook e Instagram, a IA também tem sido aplicada com êxito entre as fintechs. Isto porque cada análise requer a movimentação, simultânea, de milhões de algoritmos que cruzam informações de fontes alternativas para se chegar a uma conclusão, por exemplo, sobre a reputação do proponente que busca crédito, uma área onde o uso de IA eleva em até 300% as chances de aprovação.
Nos Estados Unidos, a inteligência artificial já é amplamente utilizada no mercado por startups, inclusive as do segmento de serviços financeiros. Lá, como aqui, a principal fonte de receitas dos bancos são as operações de crédito. Ironicamente, é na nação mais capitalista do mundo onde ocorre a total sinergia na relação entre bancos e fintechs.
Diferentemente disso, no Brasil, cujo desenvolvimento do mercado encontra-se defasado em pelo menos cinco anos em comparação ao norte-americano, o amadurecimento deve chegar, inexoravelmente. Quando? Difícil saber.
Enquanto esse futuro não chega, tanto bancos quanto fintechs devem continuar, nos próximos anos, travando uma particular guerrilha de trincheiras, disputando terreno, palmo a palmo, nas devidas proporções e sempre com “sangue nos olhos” e “faca nos dentes”. Um movimento em falso, e xeque-mate.
Autor: Leandro Zen é CEO da fintech Size
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