Por Ricardo Taveira*
Os números não mentem: segundo pesquisa da consultoria Cantarino Brasileiro, especializada em marketing e relacionamento para o setor financeiro, 54% dos usuários de bancos tradicionais têm interesse em abrir uma conta puramente digital.
Com o surgimento de novos atores no ecossistema financeiro brasileiro – as chamadas fintechs, empresas de tecnologia especializadas em serviços financeiros específicos –, o consumidor descobriu um novo mundo. Nessa nova realidade, o cliente tem acesso a uma gama de serviços financeiros obtidos em apenas alguns toques no seu celular. Apesar da maioria das fintechs se especializarem em um único serviço financeiro (seguros ou investimentos, por exemplo), também existem aquelas que se propõem a oferecer uma gama maior de produtos próprios: os chamados bancos digitais. Seguindo a linha dos bancos tradicionais de entregar para o cliente a experiência de um “supermercado financeiro”, estes bancos se destacam por misturar a agilidade da tecnologia com a conveniência de um banco “off-line” – com resultados às vezes inconsistentes.
Mas, se por um lado a tecnologia dá novos poderes para o consumidor, por outro lado ela traz novas responsabilidades. É aí que surge a inescapável pergunta que dá título a este artigo: será que vale a pena mesmo abrir uma conta em um uma determinada fintech, tendo que potencialmente recorrer a várias fintechs para suprir todas suas necessidades financeiras?
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Antes de seguirmos, é preciso fazer uma ressalva: note que estamos falando da abertura de conta no meio digital, e não de uma “conta digital”, que é uma espécie de conta corrente com serviços básicos e isentos de taxa oferecida pelos bancos tradicionais após resolução baixada em 2010 pelo Banco Central (BC). Como esse tipo de conta só pode ser movimentada por meios eletrônicos, ela ganhou o apelido de “conta digital”. Mas na prática, ela ainda é uma conta corrente, cuja única distinção é um pacote específico de serviços. Em geral quando discutimos as contas fornecidas pelas fintechs, na prática nos referimos a contas de pagamento, que têm características parecidas com as de uma conta corrente, mas sem o “tabelamento” de tarifas e serviços como as contas digitais bancárias.
As contas de pagamento são diversas, e podem incluir desde, por exemplo, um saldo corrente em uma empresa como PayPal ou MercadoPago, até o saldo de um cartão pré-pago. Tratam-se de contas online, oferecidas por empresas que não possuem agências físicas e são acessadas via site, app ou telefone, podendo ou não haver cobrança de tarifas para seus clientes.
E é aí que vem a grande vantagem de manter uma conta de pagamento digital: essas contas tendem a ser uma opção mais barata do que as contas bancárias tradicionais. E isso se dá justamente porque essas empresas digitais não possuem uma estrutura física, bem como despesas fixas e encargos que impliquem aumento no custo das operações bancárias.
E não é só isso. Graças a decisão do BC de abril deste ano, as fintechs ficaram autorizadas a fazer empréstimos sem a necessidade de intermediação dos bancos. Consequência: os clientes das fintechs acabam pagando menos juros comparados com os juros praticados pelos bancos. De acordo com pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), enquanto a taxa média de juros praticada pelos bancos do país gira em torno de 5,67% ao mês, a das fintechs fica em apenas 1,90%.
Embora as fintechs ofereçam juros menores, em geral só encontramos estes dois serviços básicos financeiros (a conta e a linha de crédito) em fintechs diferentes, o que causa uma certa fricção para o cliente médio. Além disso, lidar com uma fintech ou banco online requer certa imersão digital, isto é, a capacidade de saber mexer em um computador, seja smartphone, tablet ou notebook, uma vez que todas operações se iniciam e terminam na rede. Para complicar um pouco mais, a separação dos produtos em fintechsdiferentes obriga o cliente a ter várias interfaces, sejam apps ou sites diferentes para cada provedor.
Esse é o “custo” atual por juros mais baratos e tarifas menores para o consumidor final – algo que deve ser considerado na hora de abrir uma conta.
Felizmente é só uma questão de tempo até que o brasileiro tenha o melhor dos dois mundos. A chegada do open banking no Brasil, anunciada há poucas semanas pelo Banco Central, significa que em breve o cliente da fintech poderá ter todos os serviços financeiros contratados por ele em um único lugar, da mesma maneira que o nosso celular reúne vários aplicativos em uma única tela. O open banking já é uma realidade na Europa, onde o cliente do banco tem a liberdade de escolher como ele acessa os serviços contratados do banco, da mesma maneira que escolhemos livremente o celular que utilizamos para acessar os serviços contratados de uma operadora.
Com essa mudança pela frente, vale a pena avaliar as vantagens de uma conta digital, uma vez que, dados os recentes avanços na tecnologia e na regulação do setor, em breve a distinção entre banco e fintech (conta corrente e de pagamento) para o cliente final será ainda menor.
*Ricardo Taveira é o CEO da Quanto, fintech brasileira que oferece uma plataforma ponta-a-ponta de open banking.
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